Brasil no Epicentro: Como a Cúpula do Brics e a Reação de Trump Colocaram o País na Berlinda Global

Em uma única semana, o país sediou um encontro que desafia a ordem mundial, virou alvo de ameaças do ex-presidente dos EUA e viu a geopolítica invadir e intensificar a polarização nacional.

Cúpulas diplomáticas raramente geram comoção pública. Geralmente, são eventos de bastidores, repletos de comunicados formais e fotos protocolares. A Cúpula do Brics, encerrada na última semana no Rio de Janeiro, quebrou essa regra. O Brasil não apenas sediou um encontro; ele se tornou o epicentro de um terremoto geopolítico cujas ondas de choque foram sentidas de Washington a Brasília, expondo a delicada e perigosa posição do país no reordenamento do poder global.

Ato 1: O Palco no Rio e a Ambição do Sul Global

O objetivo da Cúpula era claro: consolidar o Brics como uma alternativa real à ordem liderada pelo Ocidente. A “Declaração do Rio”, documento final do encontro, é a prova cabal dessa ambição. Os textos defendem abertamente a necessidade de um mundo “multipolar”, pedem a reforma de instituições como o Conselho de Segurança da ONU e, mais importante, traçam um plano para aumentar o comércio em moedas locais, diminuindo a dependência do dólar.

Sob a liderança do presidente Lula, o Brasil atuou como um dos principais porta-vozes dessa nova visão, especialmente em temas como a justiça climática, onde cobrou coerência e financiamento das nações ricas. A mensagem enviada do Rio de Janeiro ao mundo foi a de que o chamado “Sul Global” não quer mais apenas um assento à mesa; ele quer redesenhar a mesa.

Ato 2: O Fator Trump e a Conexão com a Política Doméstica

A reação do outro lado do espectro geopolítico foi imediata e personificada na figura de Donald Trump. O ex-presidente e candidato americano, em sua plataforma, atacou em duas frentes simultâneas. Primeiro, a econômica: ameaçou impor tarifas pesadas aos países do Brics, prometendo uma guerra comercial caso as políticas do bloco prejudiquem os interesses dos EUA.

O segundo ataque, no entanto, foi o que mais repercutiu no Brasil. Trump publicou uma defesa veemente do ex-presidente Jair Bolsonaro, classificando as investigações contra ele como uma “caça às bruxas”. O ato não foi coincidência. Ao conectar a ameaça ao Brics com o apoio a Bolsonaro, Trump fundiu a geopolítica à polarização brasileira, sinalizando que, para ele, a disputa global também é uma batalha entre seus aliados ideológicos e seus oponentes.

Ato 3: A Colisão em Brasília

A consequência foi imediata: a política externa brasileira deixou de ser um tema de especialistas e caiu diretamente na arena do debate público polarizado. A fala de Trump deu munição para a oposição, que acusa o governo Lula de seguir uma política externa ideológica e arriscada. O governo, por sua vez, se viu obrigado a responder, com o presidente Lula afirmando que o Brasil “não aceita interferência” em seus assuntos internos.

O episódio demonstrou que as decisões tomadas no Itamaraty agora têm um custo e um benefício político imediatos. A aposta em um mundo multipolar e na liderança do Sul Global agrada a base do governo e fortalece a imagem do Brasil entre os parceiros do Brics, mas, ao mesmo tempo, gera atritos com a maior potência mundial e alimenta a narrativa da oposição em casa.

Conclusão: Uma Encruzilhada Histórica

O Brasil saiu da Cúpula do Brics maior no palco mundial, mas também mais exposto. O país está em uma encruzilhada: de um lado, a promessa de maior soberania e protagonismo em uma nova ordem mundial; do outro, o risco de confronto direto com a tradicional esfera de influência ocidental. A semana que passou deixou claro que não há mais espaço para neutralidade. Cada passo na arena internacional terá um eco ruidoso na política nacional, e o desafio do Brasil será navegar essa disputa global sem ser tragado por ela.

Fonte:

“Com informações de Reuters, Associated Press, Folha de S.Paulo, G1 e comunicados oficiais do governo brasileiro e da campanha de Donald Trump.”

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