Você ouve falar dele nos jornais o tempo todo, mas sabe realmente o que é o BRICS? Entenda a origem, a história e o que está em jogo com a ascensão deste poderoso bloco de nações.
Em um mundo cada vez mais complexo, poucas siglas se tornaram tão onipresentes e, ao mesmo tempo, tão pouco compreendidas quanto BRICS. Longe de ser apenas um clube de países emergentes, o BRICS evoluiu de uma ideia no mercado financeiro para uma força política e econômica que busca ativamente remodelar a ordem global.
Com o Brasil prestes a sediar mais uma cúpula, é a hora de fazer uma pausa e entender: o que é, de onde veio e para onde vai este bloco?
O Que é o BRICS?
Na sua essência, o BRICS é um agrupamento de cooperação política, econômica e estratégica. O nome é um acrônimo para seus membros fundadores: Brasil, Rússia, Índia e China, aos quais se juntou a África do Sul (South Africa). Recentemente, em 2024, o bloco passou por uma expansão histórica, incorporando Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos.
O objetivo principal do BRICS não é formar uma aliança militar como a OTAN, mas sim:
- Aumentar a cooperação entre os membros em áreas como comércio, finanças, ciência e tecnologia.
- Coordenar posições em fóruns internacionais, como a ONU e o G20.
- Criar uma alternativa à ordem mundial dominada pelos Estados Unidos e pela Europa, defendendo um mundo “multipolar”.
- Promover o desenvolvimento através de suas próprias instituições, como o Novo Banco de Desenvolvimento (o “Banco do BRICS”).
A Origem: Como um Acrônimo Virou um Bloco
A história do BRICS começa de forma curiosa, não em um palácio presidencial, mas em um relatório de banco. Em 2001, o economista Jim O’Neill, do banco de investimentos Goldman Sachs, cunhou o acrônimo “BRIC”.
Sua tese era puramente econômica: Brasil, Rússia, Índia e China seriam as economias que, por seu tamanho, população e potencial de crescimento, dominariam o cenário global até 2050. O’Neill estava apenas apontando uma oportunidade de investimento.
No entanto, os líderes desses quatro países viram algo mais. Eles perceberam que tinham interesses em comum e que, juntos, teriam uma voz muito mais forte no cenário mundial. A ideia saiu do papel e virou diplomacia:
- 2006: Acontece a primeira reunião dos ministros das Relações Exteriores dos quatro países, à margem da Assembleia Geral da ONU.
- 2009: Ocorre a primeira cúpula de chefes de estado, em Ecaterimburgo, na Rússia. O BRIC é formalmente lançado como um grupo político.
Breve História: Marcos de uma Ascensão
A trajetória do BRIC, que depois virou BRICS, é marcada por passos ambiciosos:
- 2011 – A Chegada do “S”: O grupo convida a África do Sul para se juntar. A decisão foi estratégica: incluiu um representante do continente africano, aumentando a representatividade e o alcance global do bloco. Nasce o BRICS.
- 2014 – A Virada de Chave: Na cúpula de Fortaleza, no Brasil, o BRICS dá seu passo mais ousado. Anuncia a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR). Na prática, o bloco criou seu próprio “Banco Mundial” para financiar projetos de infraestrutura e seu próprio “FMI” para ajudar membros em dificuldades financeiras. Foi uma declaração clara de independência das instituições de Bretton Woods, lideradas pelo Ocidente.
- 2023/2024 – O “BRICS+”: Na cúpula da África do Sul, o grupo anuncia sua primeira e histórica expansão. Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã são convidados. A Argentina formalmente recuou, mas os outros ingressaram em janeiro de 2024. Essa expansão aumentou drasticamente o peso econômico e demográfico do bloco, consolidando sua imagem como líder do chamado “Sul Global”.
Conclusão: Um Bloco em Construção
O BRICS hoje representa quase metade da população mundial e mais de um terço do PIB global. Não é mais possível ignorá-lo. No entanto, o bloco enfrenta desafios imensos: seus membros são extremamente diversos, com sistemas políticos e interesses que por vezes divergem.
De um acrônimo de mercado a um ator geopolítico de peso, a jornada do BRICS é uma das histórias mais importantes do nosso tempo. Entendê-la é essencial para decifrar para onde caminha o equilíbrio de poder no século XXI.
Fontes
Fontes Primárias (Oficiais):
- Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty): O site oficial (gov.br/mre) possui seções e notas à imprensa sobre a participação do Brasil no BRICS.
- New Development Bank (NDB): O site oficial do banco do BRICS (ndb.int) é a melhor fonte para dados sobre os projetos financiados.
- Comunicados Oficiais das Cúpulas: Os documentos emitidos ao final de cada encontro de líderes são fontes primárias que detalham as decisões tomadas.
Fontes Secundárias (Análise e Imprensa):
- Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations – CFR): Uma organização de referência em análise de política externa.
- Agências de Notícias Internacionais: Reuters, Associated Press (AP), BBC News e Agence France-Presse (AFP) oferecem cobertura contínua e analítica sobre o bloco.
- Think Tanks e Centros de Pesquisa: Chatham House, Wilson Center e o CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) publicam análises aprofundadas sobre o BRICS.
Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations – CFR), Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), reportagens da BBC e Reuters sobre a história do bloco.